sexta-feira, 30 de julho de 2010

Tecnologia chega aos produtores de leite do Vale do Paraíba

16/11/09



A tecnologia é o próximo passo da Cooperativa dos Produtores Rurais do Alto Paraíba (Cooplap), que reúne 60 produtores de leite de Paraibuna e Jambeiro para garantir a qualidade do leite dos seus 60 cooperados. Criada em maio do ano passado, a Cooplap conquistou o mercado por meio de ações coletivas e, recentemente, fechou contrato com a Perdigão, que pela primeira vez compra o produto de cooperativa do Vale.
No dia 18 de novembro, às 19h, na Casa de Agricultura de Paraibuna, a cooperativa e o Sebrae-SP oficializam a utilização do programa Sebraetec, modalidade de Aperfeiçoamento Tecnológico para a cadeia leiteira, por meio de várias ações, como o laboratório itinerante Vaca Móvel, que possibilita a realização de análises de qualidade e composição nutricional do leite. Os produtores recebem na hora o resultado da análise, com dados como as características físico-químicas, temperatura, acidez, densidade e os elementos que podem adulterar a qualidade do leite.
Essa é a primeira vez que o laboratório será utilizado com um grupo da região do Vale do Paraíba. O programa, realizado pelo Instituto BioSistêmico (IBS), terá atuação de seis meses e também desenvolverá ações como levantamento e visitas técnicas às propriedades, assessoria na organização da propriedade, assessorias de veterinários, zootecnistas e agrônomos, entre outros.
“De acordo com a metodologia do Sebrae-SP esse grupo está maduro e apto para receber essa ferramenta tecnológica, pois já se formalizou em cooperativa, compra e venda em conjunto, desenvolveu comissões para acesso ao mercado e ainda criou o seu regimento interno”, explica Tatiana Candeo, gestora de agronegócios do Sebrae-SP em São José dos Campos.
Conforme Marimar Guidorzi de Paula, gerente do Sebrae-SP em São José dos Campos, a cadeia leiteira é uma importante atividade econômica para o desenvolvimento da região e, por isso, é fundamental maximizar a produção. “O programa alia tecnologia, mais qualidade do leite, maior produção e melhor gestão da propriedade”, ressalta Marimar.
O custo mensal do programa para cada produtor é de R$ 750, sendo que 95% serão de responsabilidade do Sebrae-SP em São José dos Campos e 5% do produtor.
Central de Negócios
A Cooplap surgiu com um grupo de 13 pequenos produtores de leite de Paraibuna que, cansados da exploração do mercado no município, foi em busca de informações no Sebrae-SP. “Não tínhamos alternativa de mercado na cidade e o valor do litro de leite era vendido muito abaixo das normas estabelecidas pelo mercado”, explica Renato Pazzini, presidente da Cooplap.
O grupo passou a integrar o programa Central de Negócios do Sebrae-SP, que incentiva ações coletivas, por meio de cooperativas e associativismo, além de capacitação de gestão. Em maio de 2008, a cooperativa iniciou suas atividades, com produção de 37.378 litros por mês, no último mês de setembro a produção pulou para 102.118 litros.
O valor do litro de leite na época, conforme levantamento do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, estava sendo vendido a 11,6% abaixo do mercado da região, de acordo com a safra média do Vale do Paraíba, e a 6,2% abaixo da média do estado de São Paulo. Já em julho de 2009, o valor foi para 10% acima da média do Vale e a 9% da média do estado. “Isso significa que o grupo, em pouco mais de um ano, conseguiu resgatar 20% do valor da média de mercado”, ressalta Emílio Soufen, consultor do Sebrae-SP.
Atualmente, o litro de leite da Cooplap custa R$ 0,80, e toda a produção vai para a empresa Perdigão, em Itatiba, região de Campinas, que pela primeira vez está compra o produto de uma cooperativa do Vale do Paraíba.
O consultor lembra que no ano passado existia apenas um ponto de coleta de leite nos cerca de 50 quilômetros de distância entre as áreas, onde se localizam as propriedades rurais. Hoje, são 11 pontos de recolhimento e dois tanques emprestados para a coleta de leite deram lugar a quatro já comprados pela cooperativa, com capacidade de cerca de 2.000 litros cada um. Segundo Soufen, esse é o momento de estruturar a cooperativa e para isso é preciso definir e implantar ações estratégicas como o programa de qualidade do leite, fornecedores e parceiros.
O diretor financeiro da Cooplap, Renato Antunes, disse que o objetivo da cooperativa é a busca da excelência do micro e pequeno produtor. “O mercado exige qualidade e quem não se adequar a essa exigência não conseguirá se manter nessa cadeia produtiva”, ressalta.
Mercado aquecido
Em pouco mais de um ano de formação, a Cooplap conquistou a confiança e adesão dos micro e pequenos produtores de Paraibuna e Jambeiro. O resultado desse trabalho está no aquecimento do mercado local, além da geração de emprego e renda.
“A cooperativa quer que o produtor seja forte e consiga investir na qualidade da sua produção para conquistar o mercado”, afirma Renato Pazzini. Segundo o presidente da Cooplap, a cooperativa estuda proposta de mais duas grandes empresas alimentícias para o fornecimento do leite.
Influenciado pelo filho Rafael Santos Faria, 23 anos, José Roberto de Faria, 49 anos, que trabalha com gado de corte, decidiu investir há três meses na produção de leite. Começou com seis vacas, das quais três foram compradas por Rafael, e com produção de 25 litros por dia. Até o final deste mês, a produção de leite chegará a 200 litros por dia, com o investimento em mais 54 vacas leiteiras.
“A cooperativa pegou força e sozinho não conseguiria fazer nada”, afirma Faria, lembrando que Rafael foi o primeiro a ser cooperado. “Para mim, está valendo a pena e pretendo me preparar para investir ainda mais na produção leiteira”, ressalta Rafael, proprietário de metade das atuais 60 vacas produtoras.
O cooperado Gabriel Henrique Faria Freitas, 18 anos, estava em São José dos Campos a procura de emprego, quando percebeu a melhoria do mercado leiteiro em Paraibuna, sua cidade natal. Voltou há pouco tempo para o sítio da família, investiu em cinco vacas e já produz 40 litros de leite por dia. Com lucro de R$ 700,00 por mês, Gabriel quer construir um local adequado para o manejo do gado leiteiro na propriedade e não pensa mais em procurar emprego em outra cidade. “O leite é meu produto e com ele quero alcançar a meta de 100 litros por dia”, afirma.
O pecuarista Luciano Camargo Miranda, 40 anos, além de produzir 200 litros por dia em sua propriedade, atua no mercado de compra e venda de gado. “Chegamos no fundo do poço, mas agora com esse estímulo da cooperativa, o mercado aqueceu e a tendência é melhorar ainda mais”, disse Miranda, que neste ano já vendeu 80 gados leiteiros somente para produtores da cidade. No ano passado, ele afirma que conseguiu vender apenas 20 e, a maioria, para produtores de fora da cidade.
O aposentado Benedito Pereira, 78 anos, e que trabalha com produção de leite desde 1955, disse que estava desanimado, principalmente por já ter participado de duas cooperativas leiteiras. Para ele, o preço e a linha de coleta de leite melhoraram muito com a Cooplap. “Mas ainda temos muito buraco para tapar”, brinca ele, que identifica as 18 vacas leiteiras de sua propriedade pelo nome.

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